domingo, 11 de outubro de 2015

Cômodo

 Naquela noite, eu coloquei todas as minhas roupas na mochila em vão, como um ato melodramático de quem pede uma dose de carinho específico, com nome e sobrenome. Fazia calor, e o escuro de um quarto abafado reluzia lembranças criadas pela fantasia da paixão, uma mera passagem que cortava discretamente o meu peito.

 O silêncio daquele cômodo também me dizia para refletir sobre sentimentos repentinos que laceavam cada fibra muscular do corpo, sussurrando em meus ouvidos a hora exata e incerta de florescer o coração.

 Ainda naquele cômodo, uma luzinha fraca de abajur piscava em direção a mim, como um sinal de que bobagem é não abrir os braços e aceitar sensações vividas do cheiro, toque, afeto e sorriso de um momento inesquecível, daqueles que faz a gente querer parar o tempo, quebrar o relógio, enferrujar o ponteiro.


 Sob aquele dia, naquela experiência, tudo era fruto da minha mente hiperativa que acelerava meus sentimentos num sonho ilusório, breve e inalcançável. E nele, nada era real. Nada era sólido, tudo era uma ilusão.