Tudo estava distante, separado. A distância
não era nem por falta de comunicação, mas sim de contato. Eles sentiam-se
estranhos quando estavam pertos e, desde então, começou a contagem regressiva
para ambos saírem do conformismo e aceitar que tudo ia separar-se. Que já não
se completavam mais, infelizmente. Os olhares cruzavam-se em intervalos de
espaço entre o silêncio da noite que mais pareciam gritos agudos e
insuportáveis. Eles já sabiam. Só faltava o toque para a labareda em brasa alta
escorrer pelas histórias e tampar as cicatrizes. Sabiam que deveriam mudar seus
caminhos, fechar aquela fronteira para poder construir novas estradas. Era
triste, mas necessário. Sabiam que com a pessoa certa as coisas fluíam,
poderiam sentir vontade de ser como realmente eram e não como se projetaram.
Era hora de ir embora, era hora de soltar a mão e, por fim, sabiam que a união
entre duas pessoas é algo que envolve essência e espontaneidade, afinidade. E
isso não se mendiga e não se controla; é recíproco. Só o silêncio eloquente
poderia retratar o quão era difícil, mas tinham de partir. Jamais iriam se
esquecer de tudo que viveram e aprenderam um com o outro. O som do violino
banhado sobre a noite sinalizava a partida e, com um abraço forte e um último
beijo, soltaram-se. Ambos sabiam que uma parte de sua essência foi tirada para
viver com o outro, para servir de lembrança. Mas lembrança boa, daquela que dá
saudade e te faz sorrir de bobeira. Aquele tipo de saudade que te faz agradecer
por tê-la conhecido. São nestes momentos que sabemos que estamos vivos. Vivos
para eventualmente renascer sobre a luz do solstício que sempre nos aguarda e,
quando se atinge este ponto entre duas pessoas, o ponto de que tudo vai
explodir, mas que valeu a pena, é hora de seguir em frente. É hora de dissipar.
Tudo estava próximo, unido - e então se abriu o sorriso mais lindo do Universo
e andaram com a cabeça erguida, sem mágoa, com dor, com drama. É da dor que vem
castelos Imperiais. A proximidade não era nem por falta de apatia, mas sim de conhecimento.
Tudo estava acabado, renascido.