domingo, 25 de março de 2012

Dois

Tudo estava distante, separado. A distância não era nem por falta de comunicação, mas sim de contato. Eles sentiam-se estranhos quando estavam pertos e, desde então, começou a contagem regressiva para ambos saírem do conformismo e aceitar que tudo ia separar-se. Que já não se completavam mais, infelizmente. Os olhares cruzavam-se em intervalos de espaço entre o silêncio da noite que mais pareciam gritos agudos e insuportáveis. Eles já sabiam. Só faltava o toque para a labareda em brasa alta escorrer pelas histórias e tampar as cicatrizes. Sabiam que deveriam mudar seus caminhos, fechar aquela fronteira para poder construir novas estradas. Era triste, mas necessário. Sabiam que com a pessoa certa as coisas fluíam, poderiam sentir vontade de ser como realmente eram e não como se projetaram. Era hora de ir embora, era hora de soltar a mão e, por fim, sabiam que a união entre duas pessoas é algo que envolve essência e espontaneidade, afinidade. E isso não se mendiga e não se controla; é recíproco. Só o silêncio eloquente poderia retratar o quão era difícil, mas tinham de partir. Jamais iriam se esquecer de tudo que viveram e aprenderam um com o outro. O som do violino banhado sobre a noite sinalizava a partida e, com um abraço forte e um último beijo, soltaram-se. Ambos sabiam que uma parte de sua essência foi tirada para viver com o outro, para servir de lembrança. Mas lembrança boa, daquela que dá saudade e te faz sorrir de bobeira. Aquele tipo de saudade que te faz agradecer por tê-la conhecido. São nestes momentos que sabemos que estamos vivos. Vivos para eventualmente renascer sobre a luz do solstício que sempre nos aguarda e, quando se atinge este ponto entre duas pessoas, o ponto de que tudo vai explodir, mas que valeu a pena, é hora de seguir em frente. É hora de dissipar. Tudo estava próximo, unido - e então se abriu o sorriso mais lindo do Universo e andaram com a cabeça erguida, sem mágoa, com dor, com drama. É da dor que vem castelos Imperiais. A proximidade não era nem por falta de apatia, mas sim de conhecimento. Tudo estava acabado, renascido.