quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Coisa Assim

 Aquele estranho ser era realmente intrigante. Não se movia, embora percorresse estradas e vias pra lá e cá, sem uma meta. Vivendo além das convenções, sempre uma peça - ora dentro, ora fora - do tabuleiro. 
 Estranha também era sua bondade que de hora em hora batia na porta, florescendo seu altruísmo.
 Aquela persona de fato era curiosa. Também de natureza teimosa, insistia no que fazia bem para si ao mesmo tempo em que pensava no próximo, porém essa ideia sempre fora mal interpretada - odiava faiscar com quem amava.
 E a melancolia? Ah, ponto pessoal forte. Queria todos perto e longe, pois sua solidão, como um lobo instalado interiormente, sempre falava alto - motivo do qual se afastava de muitos, ainda que prezasse pelo bem-estar deles.
 No amor, o apego. No romance, a incorreção tradicional. A ação de pegar na mão, comprar ou lembrar cada coisa como se fossem pequenos pedaços dum pote de ouro.
 Vivia apertado. Duro, buscando opções financeiramente aceitáveis, já que seu sustento era próprio, fora obrigado a desenvolver noções econômicas precárias.
 E os sonhos? Bem, de curta duração. Aliás, seu maior sonho fora morto pelas peças que a vida prega, gerando uma tortura incansável dentro de si, remoendo o passado e, pior ainda, o futuro. Bagunça essa construída em cima de uma consciência madura e perspicaz. Preferia aguentar na solidão a incomodar, a paz ao dialogar. O conforto do lar.
 De um coração frágil e mente agitada, já não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas sabia que seria puro egoísmo parar ali. Acabar a jornada sem jornal e novidade. Coisa assim.

sábado, 2 de novembro de 2013

Chama ao redor da neve.



 Era fim de tarde. O aclamado por do sol já se aproximava e, junto a ele, a sensação também. Aquela sensação que aperta o peito e precisa ser expressa num papel em branco sem vida. Uma semana pode ser levada de várias formas, mas tivera uma semana peculiar. Interminável e caótica, angustiante. Sabia que seu silêncio uma hora o levaria à loucura exposta em palavras, como sempre fazia. A perturbação sobre cobranças pessoais e sonhos era devastadora e, em alguns momentos, permanente.

 O que mais poderia acontecer naquele momento? O automático. Sim, após o sofrimento, sentia-se automático. Leve, sereno, gostava de exacerbar a felicidade temporária através de sorrisos que lhe doíam até a alma. De repente, a vida voltava em seu peito e, como numa chama ao redor da neve, se esvaecia em frações de segundo.

 O que daria certo, então, para o pensador citado? Suas buscas ao conhecimento eram constantes, ainda que o cansaço o obrigasse a pensar em desistir, sempre buscava a fajuta harmonia em sua rotina. A rotina acabada.

 Um erro aqui e ali era destruidor e hermético. Acabava com suas metas e planejamentos que sabia que não conseguiria cumpri-las, apesar de admirar a disciplina que levava para coisas mínimas e talvez relevantes. As incertezas sobre seu caminho era de tirar o fôlego e, por vezes, desesperadora. Eu sei. O acompanhava nessa jornada, mas não podia intervir para auxiliar e aconselhar, já que eu era uma órbita impessoal em seu dialeto.

 Enfim, novamente suas perspectivas sobre a vida insistiam em bater na porta de uma forma rude e sem permissão. Sabia que alguma coisa estava errada e precisava ser mudada urgentemente, sua estrada era morta a partir do momento em que desistira de seus sonhos, os substituindo por objetivos. Mas, de que final vale? Qual o ponto, a razão e benefício se, de tantas tentativas falhas e errôneas como fuga de seu sonho, o trazia mais angústia e melancolia?