quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um trecho de "Jardins" - Rubem Alves

"Um amigo me disse que o poeta Mallarmé tinha o sonho de escrever um poema de uma palavra só. Ele buscava uma única palavra que contivesse o mundo. T.S. Eliot no seu poema O Rochedo tem um verso que diz que temos "conhecimento de palavras e ignorância da Palavra". A poesia é uma busca da Palavra essencial, a mais profunda, aquela da qual nasce o universo. Eu acho que Deus, ao criar o universo, pensava numa única palavra: Jardim! Jardim é a imagem de beleza, harmonia, amor, felicidade. Se me fosse dado dizer uma última palavra, uma única palavra, Jardim seria a palavra que eu diria."
Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma... Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas... São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Era posse minha. Mas a terra não me pertencia.

O terreno ficava ao lado da minha casa, apertada, sem espaço, entre muros. Era baldio, cheio de lixo, mato, espinhos, garrafas quebradas, latas enferrujadas, lugar onde moravam assustadoras ratazanas que, vez por outra, nos visitavam. Quando o sonho apertava eu encostava a escada no muro e ficava espiando.
Eu não acreditava que meu sonho pudesse ser realizado. E até andei procurando uma outra casa para onde me mudar, pois constava que outros tinham planos diferentes para aquele terreno onde viviam os meus sonhos. E se o sonho dos outros se realizasse, eu ficaria como pássaro engaiolado, espremido entre dois muros, condenado à infelicidade.
Mas um dia o inesperado aconteceu. O terreno ficou meu. O meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu.
Não chamei paisagista. Paisagistas são especialistas em jardins bonitos. Mas não era isto que eu queria. Queria um jardim que falasse. Pois você não sabe que os jardins falam? Quem diz isto é o Guimarães Rosa: "São muitos e milhões de jardins, e todos os jardins se falam. Os pássaros dos ventos do céu - constantes trazem recados. Você ainda não sabe. Sempre à beira do mais belo. Este é o Jardim da Evanira. Pode haver, no mesmo agora, outro, um grande jardim com meninas. Onde uma Meninazinha, banguelinha, brinca de se fazer Fada... Um dia você terá saudades... Vocês, então, saberão..." É preciso ter saudades para saber. Somente quem tem saudades entende os recados dos jardins. Não chamei um paisagista porque, por competente que fosse, ele não podia ouvir os recados que eu ouvia. As saudades dele não eram as saudades minhas. Até que ele poderia fazer um jardim mais bonito que o meu. Paisagistas são especialistas em estética: tomam as cores e as formas e constróem cenários com as plantas no espaço exterior. A natureza revela então a sua exuberância num desperdício que transborda em variações que não se esgotam nunca, em perfumes que penetram o corpo por canais invisíveis, em ruídos de fontes ou folhas... O jardim é um agrado no corpo. Nele a natureza se revela amante... E como é bom!
Mas não era bem isto que eu queria. Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que existia dentro de mim como saudade. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora; era a poética dos espaços de dentro. Eu queria fazer ressuscitar o encanto de jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas. Em busca do tempo perdido... Uma pessoa, comentando este meu jeito de ser, escreveu: "Coitado do Rubem! Ficou melancólico. Dele não mais se pode esperar coisa alguma..." Não entendeu. Pois melancolia é justamente o oposto: ficar chorando as alegrias perdidas, num luto permanente, sem a esperança de que elas possam ser de novo criadas. Aceitar como palavra final o veredicto da realidade, do terreno baldio, do deserto. Saudade é a dor que se sente quando se percebe a distância que existe entre o sonho e a realidade. Mais do que isto: é compreender que a felicidade só voltará quando a realidade for transformada pelo sonho, quando o sonho se transformar em realidade. Entendem agora por que um paisagista seria inútil? Para fazer o meu jardim ele teria que ser capaz de sonhar os meus sonhos...
Sonho com um jardim. Todos sonham com um jardim. Em cada corpo, um Paraíso que espera... Nada me horroriza mais que os filmes de ficção científica onde a vida acontece em meio aos metais, à eletrônica, nas naves espaciais que navegam pelos espaços siderais vazios... E fico a me perguntar sobre a perturbação que levou aqueles homens a abandonar as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas... Com certeza um demônio qualquer fez com que se esquecessem dos sonhos fundamentais da humanidade. Com certeza seu mundo interior ficou também metálico, eletrônico, sideral e vazio... E com isto, a esperança do Paraíso se perdeu. Pois, como o disse o místico medieval Angelus Silésius:

Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar."




quarta-feira, 4 de abril de 2012

Alguns

Pequeno cansaço

Sinto-me indisposto

Seja para andar ou sentir

Sinto-me apagado

Só pelo fato de não conseguir sorrir

São cinco e meia

Vejo o sol clarear

Machuca meus olhos

Queima minha alma

Meu corpo começa a fraquejar

Sinto-me exausto.

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Tiros

Direciona-se com uma flecha

Certeira, desenfreada e profunda

Carregada de ternura, inteligência e apatia

Solidão e aflição. Incoerente e inquieto

Por que me abandona?

No fluxo do anoitecer; vem dançar

Que a sua mão eu já não sinto

Sob suas mentiras e suscintos

Tornei-me fortaleza;

Não me venha com essa de frieza.

Rest n' Glory

This sensation which drags you into a deep and unfound feeling that may suffocate ‘til you feel your bones collapsing into a dash and tough rain involving all kind of experiences that you lived, that you’d live.

This sensation crashes your mind between freak vibrations which pushes you to the edge, so you pull so many memories while thoughts are spinning in your head when your shoes are the wrong one.

And then you start to cogitate why are you here if you smell and feels like nothing in an army, unable to purpose some space in all whole world. It feels like you loved too much. You expected too much and day by day it’s getting closer to something you don’t know, something heavy – but you don’t deserve it. You’re collapsing, wanting so badly to sleep and rest; but you can’t close your eyes without feeling this tearing pain, and your endless suffer.

This sensation brings you closely to run, to get away from people – oh you need a break. So you expect this won’t last forever, but you’re hopeless. Dancing through the mistakes of everyone. You look to the mirror and you see nothing but loneliness, expecting that someone comes around your neck and tells you that everything will be okay, so you note that your cup of coffee it’s getting to an end, so as you burning in the edge, catching what you really needed – a rest. Your hands hurt ‘cause you’re writing too much in another language just ‘cause you feel better in that way. And you’re walking and writing – you just can’t stop – you can’t avoid that, you need to put it out. People are staring at you, I’m watching you. I see you desperate, I see you all from the inside.

You’re crossing the street seeing those people walking over and over, so you run. Yes, you’re feeling right on top wearing a crown becoming close to who you are. You’re getting free from everything – you arrived home; got your existence point of glory as a wave comes to the end of the beach. You arrived home once – you’re dead. Useless smart brain, you’ve turned it off.