Naquela noite,
eu coloquei todas as minhas roupas na mochila em vão, como um ato melodramático
de quem pede uma dose de carinho específico, com nome e sobrenome. Fazia calor,
e o escuro de um quarto abafado reluzia lembranças criadas pela fantasia da
paixão, uma mera passagem que cortava discretamente o meu peito.
O silêncio daquele cômodo também me dizia para
refletir sobre sentimentos repentinos que laceavam cada fibra muscular do corpo,
sussurrando em meus ouvidos a hora exata e incerta de florescer o coração.
Ainda naquele cômodo, uma luzinha fraca de
abajur piscava em direção a mim, como um sinal de que bobagem é não abrir os
braços e aceitar sensações vividas do cheiro, toque, afeto e sorriso de um
momento inesquecível, daqueles que faz a gente querer parar o tempo, quebrar o
relógio, enferrujar o ponteiro.
Sob aquele dia, naquela experiência, tudo era
fruto da minha mente hiperativa que acelerava meus sentimentos num sonho
ilusório, breve e inalcançável. E nele, nada era real. Nada era sólido, tudo
era uma ilusão.